Cimi é acusado de usar indígenas para captar verba e não aplicar nas aldeias

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Cacique Mauro durante depoimento à CPI. (Foto: Wagner Guimarães)
Cacique Mauro durante depoimento à CPI. (Foto: Wagner Guimarães)

Durante sessão da CPI do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), na tarde desta segunda-feira (25), a organização foi acusada por lideranças indígenas da região de Aquidauana de captar recursos nacionais e internacionais e não aplicá-los nas aldeias.

O cacique Mauro Paes, da aldeia Esperança, afirmou que o advogado do Cimi, Luiz Henrique Eloy, usou a AITMA (Associação Indígena Terena do Município de Aquidauana) para angariar verba. No entanto, segundo ele, esse recurso nunca foi revertido à comunidade.

“Por eu confiar nele, entreguei a minha associação. Foi feito projeto e o dinheiro vinha para a conta da entidade. Não sei onde foram parar esses recursos, nunca vi a cor. Eu assinava tudo sem saber o que era, ele prometia fazer relatório, mas nunca prestou contas”, declarou.

De acordo com o cacique, foram depositados R$ 22 mil na conta do Cimi. Outros R$ 10 mil foram repassados para a conta de Eloy e outros R$ 10 mil entregues em espécie para Lindomar Ferreira, da aldeia Cachoeirinha (Miranda).

Conforme a presidente da CPI, deputada Mara Caseiro (PSDB), o cacique entregou comprovantes de alguns desses depósitos. Tudo será anexado ao relatório, a ser apresentado pelo deputado Paulo Corrêa (PR) até o dia 11 de maio.

Cacique da aldeia Ipegue, Ramiro Luiz Mendes também afirmou que o Cimi prometia recursos e benefícios para os indígenas que aderissem ao movimento de “retomada” de terras, o que é classificado pelos produtores rurais como invasão de áreas particulares.

Conforme o líder indígena, a promessa era de suporte para alimentação, construção de barracos e doação de lonas, mas nada disso se concretizou.

“O Cimi sempre se comprometia em fazer projetos para ajudar e custear o povo indígena que participasse de retomada. Se foi feito projeto isso não chegou às retomadas e muito menos às comunidades indígenas. Houve aprovação de projetos do Cimi, mas esses recursos não chegaram até o povo. Eles prometeram capacitação dos caciques, dos professores, para supostamente dar aula nas retomadas, sementes, maquinário, óleo diesel. Alguns projetos deles foram aprovados por entidades do Brasil e até do exterior, mas esse recurso não chegou para nós”, detalhou.

Mara Caseiro questionou o cacique sobre um desses projetos, cujos recursos foram destinados pelo Cafodi (Agência Católica para o Desenvolvimento), entre os anos de 2000 e 2002, totalizando o montante de US$ 451 mil. Ele respondeu que, desse total, a comunidade indígena recebeu apenas uma batedeira de cereais.

O ex-cacique Enedino da Silva, da aldeia Bananal, teve posicionamento semelhante durante seu depoimento. Ele afirma que o Cimi não desenvolve projetos de apoio aos povos indígenas e que atua apenas nas chamadas retomadas. Questionado pela presidente da CPI sobre o mesmo recurso do Cafodi, disse que ficou sabendo do repasse, mas também não viu a verba ser revertida em benefício da comunidade.

“Não chegou nada na minha comunidade, a não ser que alguém tenha feito alguma coisa em proveito próprio. O Cimi beneficia alguns, outros não. Para a comunidade não vem nada. Usam muito alguns indígenas para tirar proveito e esses projetos não chegam às nossas aldeias”, afirmou.

Os três líderes indígenas também desqualificaram o Conselho do Povo Terena. Foram uníssonos em afirmar que apenas três pessoas se apresentam como representantes dos indígenas dessa etnia, mas sem legitimidade: Luiz Henrique Eloy, Lindomar Ferreira e o professor Alberto.

Alguns deles têm passagens e estadia para viagens ao exterior financiadas pelo Cimi. Entretanto, a mensagem levada por eles em eventos fora do Brasil não passa pelo crivo dos caciques, conforme relatos dos três líderes indígenas.

Ainda de acordo com eles, indígenas ligados ao Cimi, como é o caso de Alberto, Eloy e Lindomar, estariam trabalhando nos bastidores para destituir caciques de seus postos, implantando a discórdia nas aldeias.

Outro fato revelado durante as oitivas é que nenhum cacique teria sido consultado sobre a indicação de Lindomar para coordenar o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena). Conforme o depoimento dos três líderes, a indicação foi política, e partiu dos deputados federais Zeca do PT e Vander Loubet (PT).

Lindomar também foi ouvido nesta tarde pela CPI do Cimi. Morador da aldeia Cachoeirinha e ex-assessor do deputado estadual Pedro Kemp (PT), membro da comissão, ele garantiu que sua indicação teve respaldo das lideranças indígenas do Estado, declaração que conflitou com os outros três depoimentos.

Ele também negou que o Conselho do Povo Terena sofra influência do Cimi e que seu grupo trabalhe nos bastidores para enfraquecer os caciques. Admitiu ainda que suas viagens ao exterior foram financiadas pelo Conselho Indigenista Missionário.

Questionado pela deputada Mara Caseiro sobre o trabalho social desenvolvido pelo Cimi nas aldeias, disse apenas que não poderia responder tal pergunta.

RETA FINAL

A CPI do Cimi entra esta semana em sua reta final de oitivas. Na próxima quarta-feira (27), deve ser ouvido o ex-coordenador adjunto do Dsei, Wanderley Guenka. Ele foi exonerado assim que Lindomar assumiu a coordenação do órgão.

Estavam agendados para hoje os depoimentos das irmãs Joana Ortiz e Michael Nolan e do coordenador regional do Cimi, Flávio Vicente de Matos. As duas religiosas foram notificadas, mas não compareceram. Flávio, que está sendo procurado pelos assessores da CPI desde o começo dos trabalhos, em outubro, ainda não foi localizado.

Até o dia 11, o relatório final deve ser apresentado. (Assessoria)

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