Negligência. Médico deixa indígena quatro meses com gaze dentro do corpo

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Uma grave falha médica ocorrida no Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) resultou em severas sequelas para uma mulher indígena guarani-kaiowá, moradora da Reserva Federal. Após uma cesariana, uma gaze cirúrgica foi esquecida dentro do corpo da paciente, permanecendo por quatro meses e culminando em uma infecção generalizada.

O caso foi tornado público e denunciado com veemência pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Dourados (CMDM).

Desde o parto, a indígena vinha relatando aos profissionais de saúde um quadro de dores intensas, febre e infecções recorrentes. Somente após uma internação emergencial, foi descoberto o corpo estranho que havia provocado uma grave infecção, comprometendo parte do sistema intestinal da paciente.

O erro médico exigiu que a mulher fosse submetida a uma nova cirurgia de emergência. O procedimento resultou na exposição do intestino, forçando a paciente a utilizar uma bolsa de colostomia – com uso ainda incerto se será permanente.

Em uma dura Nota de Repúdio, o CMDM classificou o erro como um ato de “violência obstétrica” e institucional, citando “negligência grave durante e após o parto”. A presidente do Conselho, Gilvane Bezerra da Silva Dias, destacou que o “esquecimento de uma gaze cirúrgica dentro do corpo da paciente é um erro médico inadmissível, que poderia ter sido evitado com protocolos básicos de segurança”.

A denúncia do Conselho aponta ainda que, além do sofrimento físico e emocional causado pela negligência inicial, a indígena continuou a ser alvo de maus-tratos durante os cuidados hospitalares, especialmente durante as trocas de curativos. O CMDM afirma que este abuso contínuo demonstra uma “prática desumana e racista persistente” nas relações de cuidados institucionais.

O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Dourados exige uma investigação rigorosa do caso, a punição dos responsáveis e a atuação imediata de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública. O objetivo é garantir a implementação de ações preventivas e a capacitação obrigatória no atendimento a mulheres indígenas, coibindo a violência de gênero e institucional, reconhecida pela OMS e pelo Ministério da Saúde como violação dos direitos humanos e reprodutivos.

O que diz o HU-UFGD

Em nota oficial, o HU-UFGD, que integra a Rede Ebserh, confirmou à Reportagem do Jornal Midiamax nesta terça-feira (20) o conhecimento do caso e lamentou profundamente o ocorrido.

A instituição declarou ter adotado medidas imediatas para o cuidado da paciente e informou que seus protocolos de segurança e atendimento estão sendo revistos e aprimorados.

O hospital assegurou que o episódio está sendo acompanhado “com prioridade pelas comissões competentes e pela corregedoria”.

Confira a nota da instituição na íntegra:

O Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), vinculado à Rede Ebserh, informa que ao saber das questões apontadas imediatamente adotou as providências cabíveis para garantir os cuidados integrais para seu pronto reestabelecimento.

Os protocolos e fluxos assistenciais são constantemente revisados e aprimorados, e o caso está sendo acompanhado com prioridade pelas comissões competentes e pela corregedoria da instituição.

O HU-UFGD lamenta profundamente o ocorrido, manifesta solidariedade à paciente e seus familiares e reafirma seu compromisso com a transparência, a segurança e a assistência humanizada que garanta a integridade e o respeito a todos os pacientes.

Atenciosamente,

Coordenadoria de Comunicação Social

Presidência

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares