
Um dos 13 sobreviventes do naufrágio do barco-hotel no rio Paraguai, em Porto Murtinho, o agricultor Valdecir Fernandes Freitas, 47 anos, acompanhou apreensivo os trabalhos de resgate das outras vítimas durante a quinta-feira (25). As buscas foram encerradas quando anoiteceu e retomadas no início da manhã desta sexta-feira (26). Até o momento três corpos foram encontrados. Onze pessoas continuam desaparecidas.
Abalado com o acidente, ele disse ao G1 que não quer mais viajar de barco e relatou como foi o acidente. “O tornado veio de repente, passou e deixou a desordem dele. Passar por aqui agora, só de avião. Barco nunca mais. Agora rezamos para que os corpos dos nossos companheiros sejam encontrados”, afirmou.
Um grupo de 16 turistas brasileiros e 11 tripulantes paraguaios estava a bordo do barco-hotel no momento do naufrágio. Três corpos foram encontrados até a publicação desta reportagem e 11 pessoas continuam desaparecidas. Outras 13 pessoas foram resgatadas com vida no dia do acidente.
Ele relata que após os ventos fortes o barco-hotel começo a afundar e que as pessoas que estavam a bordo começaram a cair na água. O agricultor disse que ainda viu alguns companheiros flutuando na água e pedindo ajuda, mas não conseguiu socorrê-los.
“Foi coisa de dois segundos, três segundos, foi tudo muito rápido. A hora que eu consegui sair do fundo do rio, eu olhei e vi aqueles amigos tudo flutuando e gritando ‘socorro’, mas não deu tempo de nada, não deu nem pra saber onde as outras pessoas estavam. Tinha gente dormindo, outros estavam acabando de fechar a mala”, relatou
Assim como os demais turistas, Freitas é do interior do Paraná. Ele relatou que o grupo estava hospedado na chalana desde a última sexta-feira (19). Eles embarcaram na cidade de Carmelo Peralta, na fronteira do Paraguai com o Brasil. Segundo Freitas, está foi a quarta vez que o grupo contratou os serviços da empresa para pescar no rio Paraguai.
Acidente
O naufrágio do barco-hotel aconteceu na tarde de quarta-feira (24), quando os turistas retornavam do último dia de pesca. Há poucos minutos de atracar, a aproximadamente 100 metros do cais, a embarcação foi atingida por um tornado e virou.
O acidente por volta das 17h30 (de MS), quando ventos chegaram a 93 km por hora no município. Segundo boletim de ocorrência da Polícia Civil, o barco-hotel se chamava “Sonho do Pantanal”.
Este é o segundo naufrágio em dois dias no rio Paraguai em Mato Grosso do Sul. Na terça-feira (23), uma embarcação da Armada Oficial Boliviana naufragou com 29 pessoas a bordo. Dois corpos foram encontrados.
Grosso do Sul. Foto: Reprodução/TV Globo
Tornado
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é possível que um tornado tenha atingido Porto Murtinho, a 443 quilômetros de Campo Grande, na quarta-feira (24), provocando estragos.
A meteorologista Neide Oliveira, do Inmet, disse ao G1 que não pode confirmar a passagem do tornado pela cidade porque precisaria avaliar os danos causados pelo fenômeno, mas não descarta a possibilidade.
“Não se pode falar que é tornado simplesmente pela velocidade. Era uma área de instabilidade forte e a região, a cidade, estava com temperaturas muito altas, havia transporte de umidade da Amazônia e mais a frente fria que estava no Paraguai e sul do Brasil, juntou tudo isso e intensificou esse sistema e não se descarta essa possibilidade de tornado”, afirmou.
A especialista afirmou ainda que o mesmo sistema que atuou em Mato Grosso do Sul também atingiu o oeste de São Paulo, mas com ventos em menor velocidade. “Então para afirmar que foi um tornado precisava analisar a imagem [do fenômeno]”, concluiu.
Estragos
Durante a tempestade foram registradas também quedas de árvores e destelhamento de casas, segundo os bombeiros. O prefeito do município Heitor Miranda disse ao G1 que a Defesa Civil, bombeiros, Marinha, Exército e Assistência Social estão fazendo um levantamento dos danos causados.
Buscas
As buscas pelas vítimas começaram logo após o acidente, na tarde de quarta-feira (24), foram suspensas à noite e retomadas às 5h30 desta quinta-feira. Cerca de 50 pessoas ajudam nos trabalhos de resgate em uma ação que envolve Marinha, Exército, Corpo de Bombeiros e policias Civil e Militar. Familiares das vítimas, que são do interior do Paraná, chegaram à Porto Murtinho pela manhã e acompanham os trabalhos de resgate.