Depois de não conseguir, apesar de grande esforço, evitar que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará as fraudes contra aposentados e pensionistas da Previdência fosse instalada, o governo se mobiliza para tentar controlar os trabalhos do colegiado — e evitar um desgaste ainda maior, que pode respingar nas eleições gerais de 2026. O esforço é para confirmar o senador Omar Aziz (PSD-AM) na presidência da CPMI e encontrar um relator, a ser indicado pela Câmara, que trabalhe com neutralidade, e cujo posto deve ser entregue a algum parlamentar do Centrão.
A possibilidade da indicação de Aziz para a presidência da comissão seria parte da articulação entre o Palácio do Planalto e o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP) — uma forma de compensar a pressão feita pela oposição, que levou à instalação da CPMI e deve começar a ser formatada somente em agosto, quando o Legislativo volta do recesso. Os bolsonaristas, porém, veem mais uma janela de oportunidade para continuar desgastando o governo. Tanto que o nome que começa a ser ventilado para assumir a relatoria é o do deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) — que, inclusive, apresentou um requerimento, semanas atrás, para a formação de uma comissão de inquérito para investigar, na Câmara, os descontos dos beneficiários da Previdência.
“Essas derrotas mostram uma tendência do governo Lula daqui para frente: está derretendo, na minha opinião, e vai continuar perdendo no Congresso. O governo está fraco, está fazendo o enfrentamento com o Congresso e está perdendo”, avalia o deputado Sargento Fahur (PSD-PR). No que depender do Palácio do Planalto, porém, a relatoria não será entregue a um bolsonarista. Busca alguém com um perfil semelhante ao de Aziz, que apesar de ser do PSD (detentor de postos na Esplanada dos Ministérios, mas cuja parte da bancada vota contrariamente ao Executivo), é declaradamente governista. Para isso, intensificará as negociações com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Isso não quer dizer, porém, que os bolsonaristas assistirão de braços cruzados o governo se movimentar para controlar a comissão. No que depender deles, um nome surge forte para confrontar a indicação de Aziz: o senador Rogério Marinho (PL-RN), um dos principais articuladores para a instalação do colegiado e ex-secretário especial da Previdência (de 2019 a 2020), no governo de Jair Bolsonaro.
O requerimento da CPMI conta com a assinatura de 293 parlamentares, sendo 249 deputados e 44 senadores. Destes, 82 são da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — com 21 senadores e 60 deputados de partidos com cargos no governo federal que endossaram a iniciativa.
Desarticulação
Mas há sinais de que há uma desarticulação dos governistas no Congresso. Isso pôde ser constatado na sessão da Câmara, de quarta-feira. Apesar de ser semi-presencial, foi tomada pela oposição, que compareceu em peso. Em defesa do Palácio do Planalto, somente a deputada Erika Kokay (PT-DF) a rebater os bolsonaristas. Ela chegou a falar na tribuna por seis vezes, em um período de 3h41.
Erika, porém, negou que as vitórias da oposição representem uma fraqueza do governo, tal como a derrubada dos vetos presidenciais à lei que visava estimular a geração de energia eólica offshore e que pode jogar sobre os contribuintes um custo de R$ 197 bilhões até 2050. Considera que os parlamentares oposicionistas têm atuado para proteger os interesses dos mais ricos.
“Eles têm uma resistência imensa de colocar o rico no Orçamento. Eles são contra taxar as grandes fortunas. Quando dizem ‘nenhum imposto a mais’, não é nenhum imposto para quem tem muito dinheiro no Brasil”, disse ao Correio Braziliense. Para a deputada, o governo tem compromisso com o equilíbrio fiscal, mas que deve estar atrelado à justiça social. Segundo Erika, à oposição interessa punir os mais pobres, como a proposta para desvincular as aposentadorias do reajuste do salário mínimo. “Enquanto isso, eles constroem um cordão de proteção às fortunas”, criticou.
Correio Braziliense