Como diria Paul Stanley, vocalista da banda Kiss “I wanna rock and roll all nite and party every day”… Este refrão, de uma das músicas mais conhecidas da banda, resume bem o espírito dos amantes do rock. Um dos estilos mais importantes e longevos da história da música tem um dia só seu, o Dia Mundial do Rock, celebrado em 13 de julho.
Embora conhecido como Dia Mundial do Rock, a data é comemorada apenas no Brasil. Foi neste dia que o cantor Phil Collins, quando participava do festival Live Aid, realizado em 13 de julho de 1985, sugeriu que a data deveria ser o dia mundial do rock. Nos Estados Unidos, o Dia Mundial do Rock também é comemorado em julho, porém, nos dias 5 e 9.
Os primórdios do rock remetem ao fim da década de 1940 e início da de 1950, com a mistura de jazz, country e blues. Para muitos, Chuck Berry é o pai do rock que, ao lado de Johnny Cash, Bill Haley & His Comets, Little Richards, entre outros, foi o primeiro a levar a guitarra elétrica e o ritmo alucinante aos jovens da época.
Já outros, creditam às cantoras Willie Mae “Big Mama” Thornton e Sister Rosetta Tharpe o pioneirismo do rock, inclusive, Rosetta compôs a música que é considerada o primeiro rock, Strange Things Happening Every Day. Embora com origem negra, o estilo ganhou o mudo quando um cantor branco, fã dos citados acima, surgiu como um fenômeno: Elvis Presley, o Rei do Rock.
No Brasil, a desbravadora foi a cantora Nora Ney, quando, em 1955, gravou Rock Around the Clock, originalmente do Bill Haley & His Comets. Logo seguiu-se a Jovem Guarda, o Tropicalismo, em 1960, e o rock dos anos 1980. Os maiores nomes do estilo no Brasil são Rita Lee e Raul Seixas, a rainha e o pai do rock brasileiro, respectivamente.
Setentão, o rock passou por várias mutações e novos estilos surgiram, mas uma coisa não muda: o fanatismo dos seguidores. Contudo, fãs do gênero musical que ouvem seus artistas favoritos devem ficar atentos aos problemas que a exposição frequente e prolongada a sons muito altos causa. Seja em casa ouvindo seus discos ou streaming preferidos – com ou sem fone de ouvido – ou em um show.
De acordo com a médica residente em otorrinolaringologia no Programa de Residência Médica da Cassems, Tainara Siqueira, a exposição prolongada a sons intensos pode causar perda auditiva induzida por ruído e zumbido, que muitas vezes são irreversíveis. “O som alto danifica as células sensoriais da cóclea. Os sintomas mais comuns incluem zumbido (tinnitus), sensação de ouvido tampado e dificuldade para entender conversas, especialmente em ambientes ruidosos”, explica a profissional.
Guga Borba, instrumentista, cantor e compositor, com 30 anos de carreira, sabe muito bem os efeitos que a exposição a ruídos extremos causa na saúde auditiva. A inexperiência e os equipamentos fizeram a diferença. Acostumado a volumes extremamente altos nos palcos, Guga já sente os efeitos desses anos todos exposto a decibéis elevados.
“No começo, a gente é muito aventureiro né?! Eu percebi uma diferença muito grande lá pelos 30 anos de idade, mas não dei muita atenção na época, pensei que era uma coisa natural da idade. Comecei a perceber que a audição do lado esquerdo começou a fazer diferença, principalmente nos grandes palcos. A música é alta mesmo, principalmente para quem toca rock e derivados. Tem mais massa sonora, mais volume e na época que eu comecei, não tínhamos os equipamentos modernos que temos hoje”, pontua Borba.
E se por um lado o volume leva você a viajar pelas ondas do rock, por outro é preciso de atenção, porque segundo a otorrinolaringologista existe um nível específico de decibéis (dB) em um determinado período. “O limite seguro para o ouvido humano é de até 85 decibéis por até 8 horas por dia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Acima disso, o tempo seguro diminui rapidamente, por exemplo, 100 dB, volume comum em shows, pode causar danos em apenas 15 minutos de exposição contínua”, afirma Tainara.
Guga aprendeu isso na marra, na prática e com a experiência adquirida, quando começou a conhecer melhor os equipamentos, as frequências e entender o que acontecia com sua audição. “No começo, não era nem o volume, eram algumas frequências mais agudas que eu não ouvia. Era perceptível. Por exemplo, esses monitores que ficam no chão do palco, um de cada lado, o que chamamos de retorno, e você percebe que um parece menos agudo, mas não está. É a audiometria que começa a fazer diferença e geralmente começa com frequências agudas”, explica Borba.
Mas calma, não é por isso que devemos deixar de ouvir nossas músicas favoritas. Para continuarmos sentindo o prazer que é se deliciar com os riffs de guitarra e batidas de um bom rock’n’roll, há meios bem seguros para se proteger e se prevenir, como afirma a médica. “É importante reduzir o volume, fazer pausas, usar protetores auriculares, especialmente em locais muito ruidosos, e realizar exames auditivos são formas eficazes de prevenção”, pontua.
E foi isso que Guga fez, buscou ajuda. Aos 40 anos e já com muitos anos de palco, fez o primeiro teste de audiometria que apontou de cara que, além da frequência, o volume estava prejudicado. Guga não chegou a buscar tratamento, mas começou a cuidar e dar mais atenção à saúde auditiva.
“Eu fui atrás de descobrir o que estava acontecendo e fui diagnosticado realmente com essa perda de frequência. Comecei a cuidar melhor da minha audição, melhorando a qualidade do fone no trabalho e a usar o sistema de monitor In Ear, com as frequências adequadas para que não machuque a audição de maneira alguma. Levei um tempo para me adaptar, para não tirar de um lado, porque eu gosto de tocar e ouvir o público. Hoje, eu já me adaptei, mas dependendo do tamanho do palco, eu prefiro sentir a ambiência. O conselho que eu dou para quem está começando, não faça isso porque prejudica muito. Agora pode ser que não, mas no futuro, com certeza vai sentir”, avalia.
Se existe prevenção, também há tratamento. A falta de cuidado adequado pode trazer várias consequências físicas e psicológicas. A otorrinolaringologista elenca essas implicações e os tipos de tratamento. “Além da perda auditiva, podem surgir hipersensibilidade a sons e zumbido persistente. Em casos extremos, há risco de estresse e cefaleias associadas. A falta de tratamento pode levar a isolamento social, dificuldades cognitivas e piora da qualidade de vida. O zumbido também pode causar ansiedade e insônia. Os principais exames são a audiometria tonal, a audiometria vocal e as emissões otoacústicas, que detectam perdas auditivas precoces”, finaliza.
Guga adora o palco e não pretende abandoná-lo tão cedo, porém, também não renuncia à proteção. O cantor explica que com equipamentos mais modernos e acessíveis fica bem mais fácil se proteger.
“Eu conheci o In Ear quando eu trabalhava em produção de festivais e via que todos os artistas trabalhavam com essa tecnologia. Fui atrás e hoje sempre uso, porque eu adoro o palco, me sinto bem, praticamente em casa. Inclusive, atualmente essa tecnologia está mais acessível. Eu indico para todos”, afirma.
Atualmente, as composições de Guga Borba estão bem mais amplas, quando se fala em estilos, contudo, Guga nasceu no rock e será sempre um cantor de rock. No Dia Internacional do Rock, ele conta como o estilo lhe influenciou e, por meio dele, se conectou com a sonoridade regional.
“Em minhas primeiras percepções musicais, eu já sentia uma forte influência do rock nacional e internacional, principalmente do rock progressivo. Com o passar do tempo, essa presença sonora se instalou em minha maneira de compor, usufruindo de instrumentos de cordas como violões, violas e guitarras. Estudando diferentes afinações, eu pude conectar o meu rock com as sonoridades da Bacia do Prata, que possui uma cadência ternária e diferenciada. O fato é que o rock está em minhas veias e, através dele, eu posso me expressar de infinitas maneiras”, finaliza.
Lista com 20 discos mais importantes do rock
– Chuck Berry – The Great Twenty-Eight (1982) Apesar de lançado em 1982, o disco reúne os grandes sucessos dos primeiros dez anos da carreira de Berry (1955/1965)
– Elvis Presley – Elvis Presley (1956)
– Roberto Carlos – Jovem Guarda (1965)
– The Velvet Underground – The Velvet Underground (1967)
– The Doors – The Doors (1967)
– Os Mutantes – Os Mutantes (1968)
– The Beatles – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1969)
– The Rolling Stones – Let it Bleed (1969)
– Led Zeppelin – Led Zeppelin IV (1971)
– Deep Purple – Machine Head (1972)
– David Bowie – The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars” (1972)-
–Raul Seixas – Krig-ha Bandolo (1973)
– Pink Floyd – Dark Side of the Moon (1973)
– Secos e Molhados – Secos e Molhados (1973)
– Rita Lee – Fruto Proibido (1975)
– Ramones – Ramones (1976)
– Sex Pistols – Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (1977)
– AC/DC – Back in Black (1980)
– Guns N’ Roses – Appetite for Destruction
– Nirvana – Nevermind (1991)