Arroba a R$ 145 não se sustenta, afirma Zé Teixeira

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Zé TeixeiraApenas uma coisa chama mais atenção de Zé Teixeira que a política: a arte de criar, recriar e engordar. Pecuarista convicto, mas também apaixonado pela agricultura de precisão, Zé Teixeira destaca a importância do Circuito ExpoCorte 2015, mostra de pecuária que percorre os principais polos de produção do Brasil para difundir tecnologia e fomentar discussões sobre a cadeia produtiva da carne, e que acontece nos dias 29 e 30 de julho, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande. “Esse encontro é de fundamental importância para discutir a pecuária que temos e a que queremos, sobretudo no que se refere ao planejamento estratégico para superar as adversidades que surgem da porteira pra fora”, argumenta Zé Teixeira.

Ele afirma que a pecuária brasileira é hoje uma das mais modernas do planeta, mesmo porque os criadores estão sempre abertos para as novas tecnologias e sabem explorar como poucos o cruzamento de raças. “Esta condição fez com que nosso pecuarista oferecesse ao mundo uma carne de elevada qualidade, sobretudo aquela produzida a partir do cruzamento da raça Nelore com a Aberdeen-Angus”, ressalta Zé Teixeira. “Temos muito a crescer, a evoluir no cruzamento industrial, no melhoramento genético, no confinamento e encontros como o Circuito ExpoCorte são estratégicos para que possamos ampliar nossos horizontes”, completa o pecuarista.

Ao falar sobre o mercado de pecuária Zé Teixeira é taxativo: “a recuperação dos preços é animadora, mas tenho convicção que arroba do boi a R$ 145 não se sustenta diante do mercado consumidor”. Para ele, o preço da arroba saltou muito rapidamente dos R$ 90 para R$ 145 e agora sofrerá um ajuste natural em virtude da queda na demanda. “Essa recuperação dos preços não está sendo bancada pelos frigoríficos, pelo contrário, a indústria apenas repassa para o consumidor final que, diante do aumento do preço, passará a consumir as chamadas carnes brancas que estão bem mais em conta”, analisa Zé Teixeira.

Na visão do pecuarista, bom seria se esse valor se sustentasse. “Mas acho pouco provável que isso ocorra em virtude da concorrência com a carne de frango e com a carne suína, de forma que a queda no consumo da carne vermelha forçará um ajuste no preço da arroba”, comenta. Esse ajuste, segundo o criador, também deve chegar ao criador, mesmo porque hoje estão pedindo valores fora da realidade pelo bezerro. “Estão cobrando entre R$ 1.600 a R$ 1800 por bezerro, ou seja, o criador está pagando 12 arrobas para levar para o campo um bezerro de 8 arrobas, de forma que inicia a engorda já com prejuízo de, pelo menos, 4 arrobas”, explica.

Na visão de Zé Teixeira, outro fator que deverá tirar o sono do pecuarista é a redução no volume do rebanho em Mato Grosso do Sul. “Em determinado momento, nosso Estado chegou a ter o maior rebanho do Brasil e hoje estamos em terceiro e muito perto de perder esse posto para Goiás”, lamenta. “Isso ocorreu porque num determinado momento a pecuária estava tão desestimulante que o criador começou a vender suas vacas para abate e hoje com a recuperação do mercado a grande parte não tem matrizes em número suficiente para aproveitar esse bom momento”, observa Zé Teixeira.

CONFINAMENTO

Na relação custo benefício entre o gado criado à campo e o confinado, o pecuarista ressalta que é preciso avaliar bem o caminho a seguir. “O gado criado no campo fica pronto para o abate, em média, com 36 meses de idade, enquanto o confinado, cumprindo os três setes (sete meses, mais sete meses confina e mais sete meses abate) pode ser abatido com 21 meses”, explica. “O detalhe é que ao optar pelo confinamento, o produtor abate mais cedo, mas, também, tem sua margem de lucro reduzida substancialmente”, completa.

Ainda assim, na visão do pecuarista Zé Teixeira, confinar é uma boa estratégia e hoje estima-se que cerca de 10% dos animais abatidos no Brasil são de confinamento, o que dá algo em torno de 3,6 milhões de cabeças. “O aumento da produção de grãos, sobretudo do milho com uma safra cada vez maior e um preço atrativo, acaba beneficiando o confinamento a partir do momento em que favorece a produção de ração”, analisa. “Mas o ideal é que o produtor explore melhor os recursos disponíveis na propriedade, sobretudo na integração da lavoura com pecuária e, também, desenvolva um sistema eficiente de manejo para preservar o pasto em estiagens prolongadas”, completa.

A falta de planejamento estatal, de uma política pública voltada para a pecuária, acaba penalizando o criador. “Mesmo com o agronegócio sendo o sustentáculo da economia nacional, o governo não destina a esse setor a atenção que deveria, de forma que as obras práticas e as experiências exitosas são méritos exclusivo dos criadores”, completa Zé Teixeira.

CARTELIZAÇÃO

Depois de participar da audiência pública “Indústria da Carne em Mato Grosso do Sul”, que aconteceu no começo do mês na Assembleia Legislativa, Zé Teixeira reforçou a convicção que não existe cartel na indústria frigorífica no Estado. “Eu ouvi atentamente o presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul, Ivo Cescon Scarcelli, que defendeu o livre mercado e o mínimo possível de interferência do governo na atividade empresarial, e concordo com ele”, enfatiza Zé Teixeira.

Para ele, o fechamento de frigoríficos e o crescimento do grupo JBS no Estado não significa cartelização da carne. “O que existe é uma disputa de mercado, além do mais, as reclamações de cartel devem ser levadas ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que é quem tem poder e obrigação de investigar essa prática”, ressalta. “Nesse ponto a Assembleia Legislativa não tem muito o que fazer, mas, como deputado estadual e produtor, posso afirmar que os grandes frigoríficos vão sempre existir e os pequenos e médios abatedouros não vão acabar, porque existe espaço para todos no mercado”, completa. “Basta ver o que aconteceu com os açougues menores que foram fechando suas portas com a chegada das grandes redes de supermercados com seus açougues gigantescos, os pequenos açougues organizados continuam no mercado, gerando emprego e cumprindo sua função”, finaliza Zé Teixeira.

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