Arquiteto paulista fala sobre os novos paradigmas da profissão

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Guto Requena é um arquiteto e visionário que teoriza sobre os novos paradigmas de um futuro próximo. (Foto: Divulgação)

Projetar casas e edifícios é algo que sempre esteve atrelado à figura do arquiteto, porém, uma nova era que já está nascendo expõe o surgimento de novos paradigmas disruptivos que irão alterar muitos conceitos e valores. É teorizando sobre um futuro próximo que o arquiteto paulista Guto Requena apresentou aos acadêmicos da Unigran e profissionais da cidade e região, um olhar abrangente e crítico não só acerca da arquitetura, mas também da sociedade como um todo.

A palestra fez parte da programação da XI Jornada Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo, cujo tema é justamente ‘inovação e tecnologia’. E, para ir ao encontro destas questões, a organização do evento trouxe para Dourados, pela primeira vez, um profissional visionário, futurologista, uma pessoa à frente do seu tempo. Requena começou o discurso contando sobre inquietações que sempre o acompanharam desde a juventude, quando se questionava sobre o seu papel na sociedade e qual seria sua contribuição para a humanidade.

Inicialmente, após concluir a faculdade em 1999, pela USP (Universidade de São Paulo), passou a exercer a chamada arquitetura tradicional, conseguindo logo nos primeiros anos de carreira montar um grande escritório, que contava com mais de 20 profissionais. Porém, as tais inquietações fizeram-no entrar numa espécie de crise existencial que culminou no fechamento do já renomado escritório, a dispensa de todos os funcionários e a busca por um novo sentido na vida, algo que faz lembrar, mesmo que de longe, o que se passa na obra Into The Wild (Na Natureza Selvagem, na versão traduzida para o português), baseada em fatos reais, de autoria de Jon Krakauer, que também gerou um filme homônimo lançado em 2008.

Na obra estrangeira, um jovem filho da classe média alta, após diversos questionamentos a si mesmo e a família, abandona todas as benesses de alguém nascido nesta “casta social”. Na busca por respostas ele peregrina por todos os Estados Unidos até decidir morar sozinho em uma região selvagem nos confins do Alasca, onde acabou por sucumbir devido supostamente a intoxicação resultante da ingestão de plantas venenosas. Porém, diferente do ocorrido com o personagem do drama norte-americano, o brasileiro Guto Requena não passou por esses maus bocados e, para a felicidade geral da nação, encontrou respostas para seus inquietantes questionamentos e hoje as compartilha por todo o mundo.

Ainda sobre o palestrante, o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unigran, Márcio de Melo, disse que conheceu Requena pessoalmente durante uma feira em São Paulo e ficou encantado com as análises e projeções revolucionárias do arquiteto paulista e, desde então, trabalhou para trazê-lo até Dourados. “Nesta semana acadêmica de 2018 temos a temática inovação e tecnologia, então foi a oportunidade ideal para trazermos o Guto Requena, para contar um pouco da sua experiência aos acadêmicos da Instituição e também para os profissionais da cidade e região. Isso só foi possível graças ao apoio da mantenedora, que nos últimos anos tem investido pesado em inovação, tendo criado inclusive um setor específico para coordenar e fomentar esta questão”, complementou.

Sociedade ciborgue

Em uma alusão à ficção, onde homem e máquina se misturam em um só corpo, como nos filmes de Robocop, na vida real a simbiose ainda não está neste nível de evolução, contudo, a relação dos humanos contemporâneos com a tecnologia digital está cada vez mais estreita, ao passo que boa parte das nossas atividades cotidianas ocorrem com o auxílio de alguma máquina ou aparelho eletrônico. O nível de conectividade dos brasileiros é imenso, apesar de sermos um país em desenvolvimento – nomenclatura mais amena para ‘terceiro mundo’  ? , 70% dos cidadãos tem acesso a internet. Esse número é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que promove um acesso quase irrestrito à informação, provoca uma potencialização do isolamento e da individualidade.

E é justamente para corrigir esse problema que entra a arquitetura moderna segundo Requena, que, além de criar obras belas e confortáveis, os profissionais dessa área precisam dar ênfase em espaços de convivência, ou seja, o ambiente tem que ser convidativo para os indivíduos se socializarem. Durante a palestra ele exemplificou a importância ao mostrar imagens do Minhocão (viaduto de São Paulo) durante a hora do rush e nos períodos nos quais é fechado para o trânsito de veículos. Se valendo da máxima de que uma imagem vale mais que mil palavras, não é preciso nenhuma explicação para compreender que um espaço barulhento e de certo modo hostil, torna-se um verdadeiro parque quando os veículos não entram na via, provocando a oportunidade das pessoas usarem a pista para andar de bicicleta, caminhar, levar as crianças para brincar, entre outras atividades sociais benéficas a saúde psicológica.

Lar expandido e construções interativas

Outra questão abordada pelo arquiteto no que diz respeito à imersão de novos paradigmas é com relação ao conceito de lar. Ele acredita que em um futuro próximo o chamado ‘lar’ não irá se resumir apenas a aquele imóvel onde guardamos nossos pertences, descansamos, dormimos, etc. Requena crê que haverá uma grande descentralização e o lar pode passar a ser uma simples mochila. Isso a princípio faz parecer que irá surgir uma legião de mendigos e andarilhos pelas cidades, mas não, isso na verdade supõe que as atividades que hoje realizamos em nossos lares tradicionais passarão a ser feitas em ambientes compartilhados e terceirizados.

Outra tendência desta nova era teorizada por Requena é com relação ao papel das construções. Ele explica que elas hoje precisam realizar muito mais que apenas nos guarnecer e serem agradáveis, elas devem “conversar” com as pessoas. Um exímio exemplo desta interação ocorre em São Paulo, onde um antigo edifício que abriga um hotel hoje se tornou um ponto de referência na metrópole brasileira. O prédio do WZ Hotel mostra o seu “humor” baseado nos níveis de poluição sonora e atmosférica da cidade. Ele se comunica através de luzes instaladas em painéis que preenchem seus quatro lados, assim, quanto maior a poluição mais tons vermelhos e quanto menor há um predomínio do azul. E como é de imaginar, encrustado em uma cidade como São Paulo, o humor do prédio nunca é dos melhores. Além disso, as pessoas podem interagir com este “organismo artificial” por meio de um aplicativo.

A XI Jornada Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo ocorreu entre 13 e 17 deste mês e contou com diversas outras palestras, como também com inúmeras oficinas e dinâmicas de grupo. O curso de Arquitetura da Unigran tem duração de dez semestres e conta uma completa infraestrutura, acompanhada de centenas de títulos na biblioteca que sob a orientação de professores mestres e doutores entregam ao mercado de trabalho um profissional completo e apto a atender as demandas da sociedade. Mais informações podem ser obtidas através do telefone 67 3411-4120 e também pelo e-mail arquiteturaeurbanismo@unigran.br.

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