O presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, admitiu em entrevista ao canal esportivo francês BeIN Sport que a organização da Copa do Mundo no Brasil está sendo “mais complicada do que na África do Sul”, que recebeu a última edição da competição, em 2010.
“Todas as Copas do Mundo são difíceis de organizar, mas o certo é que no Brasil está sendo muito complicado do que na África do Sul”, afirmou o dirigente.
Um dos motivos apontados por Blatter é o clima social tenso, com manifestações que levaram milhões de pessoas às ruas desde junho do ano passado, para pedir melhoria nos serviços públicos e protestar contra os gastos públicos nos preparativos para a Copa.
“Na África do Sul, o povo inteiro queria esta Copa do Mundo. Mandela disse: ‘agora que temos a Copa, todo mundo precisa dar seu apoio'”, lembrou o suíço.
“O Brasil tem 200 milhões de habitantes. Economicamente, é uma nação forte, mas isso não quer dizer que todas as pessoas são felizes. O que importa e a divisão das riquezas”, opinou.
“Como na Suíça, tem gente mais abastada e gente mais pobre. A diferença é que, de 200 milhões, se 100 milhões não estão de acordo, fazem mais barulho do que aqui, onde, quando há 50 pessoas numa manifestação, acham que há uma forte oposição”, resumiu.
Blatter também abordou a situação da Copa do Mundo do Catar-2022, alvo de muitas polêmicas por causa de denúncias de trabalho escravo e preocupações com as altas temperaturas registradas no país em junho e julho, meses em que a competição costuma ser disputada.
“O melhor seria disputar o torneio no fim do ano (inverso boreal). Temos que ser realistas. Para mim, vamos mudar, porque não é possível jogar no verão, apesar do Catar insistir em dizer o contrário, teremos que jogar no inverno, no fim do ano”, afirmou o dirigente, que já havia se pronunciado a favor da mudança de data no passado.
Blatter também fez questão de descartar qualquer responsabilidade da Fifa nas mortes de operários que trabalham em obras da Copa de 2022.
“Estes operários teriam morrido por causa do futebol?! Os operários morreram porque a organização do trabalho é mal feita. Inclusive, apenas um estádio foi construído por enquanto, e ele nem está concluído ainda. O futebol não tem nada a ver com isso”, insistiu o suíço.
“A responsabilidade deve ser exigida das grande empresas europeias que trabalham lá, porque são responsáveis por seus operários”, salientou.
Blatter também se disse contra o uso do vídeo para auxiliar a arbitragem na interpretação de lances duvidosos durante a partida.
“Sou muito conservador no que se refere ao vídeo. O uso de imagens durante o jogo vai mudar o seu ritmo. A grandeza do futebol é jogar 90 minutos sem paradas. Temos que conviver com os erros humanos, o jogo é humano”, explicou o dirigente.
Neste quesito, a Fifa cedeu apenas sobre um aspecto: o uso da tecnologia na linha do gol, para confirmar se a bola entrou ou não.