Após 8 anos sob comando do Partido Socialista, Portugal dá guinada à direita

-

Depois de oito anos sob o comando do Partido Socialista (PS), Portugal dará uma guinada à direita. Ainda que com milhares de votos por serem contados, todos oriundos do exterior, a Aliança Democrática (AD), com 29,6% da preferência do eleitorado, se declarou vitoriosa na disputa e ressaltou estar pronta para formar o governo do país europeu.

Segundo o líder desse grupo político, Luís Montenegro, “esse é o desejo do povo português, como ficou claro nas urnas”. Secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos reconheceu a derrota e afirmou que o seu partido não está disposto a formar uma maioria alternativa na Assembleia da República, com vistas a fazer o próximo primeiro-ministro. “Nós estaremos na oposição”, avisou. Com 98% das urnas apuradas, os socialistas obtiveram 28,7% dos votos.

No discurso da vitória, Montenegro reafirmou o que havia dito durante a campanha eleitoral: não fará coligação com o Chega, partido de extrema-direita, para chegar ao Palácio de Belém. “Mantenho os meus compromissos”, afirmou. Ou seja, “não é não”, como havia assinalado. O fato, porém, é que a ultradireita deu um salto espetacular nas eleições, conquistando 18,1% dos votos ante os 7,2% computados em 2022. Esse espectro político avançou de Norte a Sul de Portugal — venceu no Algarve — e passou de 12 para 46 deputados, um deles, Marcus Santos, o primeiro brasileiro eleito na história para a Assembleia da República. No total, o Chega teve mais de 1 milhão de votos.

A Aliança Democrática ficou com 77 assentos no Parlamento e o PS, com 74, números que ainda podem ser ajustados com a contabilização dos votos pendentes. No entender de especialistas, a nova composição de deputados terá importantes reflexos nas políticas que serão adotadas nos próximos meses, inclusive na área da imigração. O brasileiro Marcus Santos é um dos eleitos pelo Chega que defendem uma política rígida de controle na entrada de cidadãos estrangeiros em Portugal, em especial, daqueles oriundos de países muçulmanos. Os representantes da ultradireita estimulam a xenofobia e o racismo.

Legenda dividida

Apesar das declarações de Montenegro em relação ao Chega, há uma grande divisão dentro de seu próprio partido — uma ala defende o casamento com a legenda comandada por André Ventura. Inclusive, já se cogitou a possibilidade de se afastar o atual líder da Aliança Democrática e substituí-lo por uma pessoa mais flexível, como, por exemplo, Pedro Passos Coelho, ex-primeiro-ministro. Os próximos dias, portanto, serão decisivos para mostrar até onde vai a força de Montenegro para se manter à frente da AD e realizar o sonho de se tornar primeiro-ministro de Portugal.

Ventura já se antecipou e mostrou disposição para um acordo com a Aliança Democrática. “Os portugueses querem dois partidos no comando no país”, frisou. Segundo ele, as eleições deste domingo marcaram o fim do bipartidarismo em Portugal e, diante o que se viu nas urnas, é preciso que haja responsabilidade da direita no sentido de formar um governo. “A direita precisa ter responsabilidade com o país. Só um ato de irresponsabilidade, de deixar o Partido socialista governar, pode afastar um acordo. Vamos ouvir o que Luís Montenegro tem a falar. Os portugueses já disseram o que querem nas urnas e deram uma resposta ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que quis condicionar os votos dos cidadãos”, disse. O presidente é contra a coligação da AD com o Chega.

Pedro Nuno Santos, do PS, afirmou que, apesar dos votos que ainda estão por ser contados, é melhor assumir a derrota para a Aliança Democrática, pois não é justo manter o país em suspense por mais duas semanas. Para ele, deve-se considerar ainda o expressivo do Chega, que teve 18,1% da preferência do eleitorado. “Foi mais de 1 milhão de votos de portugueses xenófobos e racistas, mas a maioria dos cidadãos do país não compartilha desses pensamentos. Estamos prontos para a luta e vamos reconstruir as condições para que o PS possa voltar a governar Portugal”, ressaltou. “Vamos para a oposição não deixar que o Chega ocupe esse espaço”, emendou, jogando a responsabilidade para Montenegro sobre uma eventual coligação com a ultradireita.

As eleições em Portugal foram antecipadas em dois anos. Em novembro passado, uma operação do Ministério Público apontou indícios de corrupção no governo, o que levou à renúncia do socialista António Costa do cargo de primeiro-ministro. Diante desse fato, o presidente português optou por dissolver a Assembleia da República e convocou nova votação. Até agora, nenhuma das acusações foi confirmada. Costa, por sinal, afirmou que esse fato teve peso importante na ascensão do Chega, assim como a disparada da inflação e a subida dos juros, que prejudicaram o bem-estar dos cidadãos. “O certo é que essas eleições só ocorressem em outubro de 2026”, ressaltou.

Correio Braziliense

plugins premium WordPress